A embarcação era uma réplica de barcos que desapareceram com a
divulgação do vapor. Tinha 26,5 metros de comprimento, 6,5 de boca
máxima, 2,5 metros de calado, três mastros e um deslocamento de 190
toneladas, tendo o seu custo rondado os seis milhões de patacas.
No passado, as lorchas assumiam-se como navios de comércio sendo
ocasionalmente utilizados aquando de conflitos regionais. Combinando um
casco de traçado ocidental com um leve velame de concepção oriental
tornaram-se famosas pela sua rapidez e manobrabilidade. As primeiras
referências a lorchas surgem no século XVII e são assinaladas por Fernão
Mendes Pinto na “Peregrinação”. Estas embarcações tiveram um importante
papel na Ásia, não só ao nível comercial mas também na luta contra os
piratas, em apoio de frotas imperiais da China e na vigilância e
segurança das rotas marítimas regionais desde a Malásia até ao Japão.
Neste contexto histórico, o capitão-tenente José Maria Cortes,
nomeado em Março de 1986 para dirigir as Oficinas Navais conta que em
Janeiro de 1987 após na África do Sul ter sido feita uma réplica da
caravela “Bartolomeu Dias” “começou a falar-se em Macau no âmbito dos
Serviços de Marinha e da Direcção dos Serviços de Turismo em construir”
uma embarcação que assinalasse a presença de Portugal em Macau e
traduzisse de algum modo o panorama naval chinês que havia em Macau”.
Em entrevista publicada em 2010 no blog da Armada Portuguesa José
Maria Cortes explica que dos vários estudos então feitos percebeu-se que
“as lorchas embora já em desuso nas águas do Sul da China tinham tido
uma presença assinalável nos séculos anteriores e eram navios que tinham
cascos baseados nas caravelas portuguesas e um aparelho vélico chinês”.
“Havia assim uma mistura que juntava Portugal e a China”, o que fez
avançar o projecto, e com o entusiasmo dos oficiais navais em serviço no
Território, em especial os comandantes Martins Soares, Sá Leal e José
Cortes em 1988, por decisão da Administração portuguesa de Macau, as
Oficinas Navais lançaram mãos à obra.
Conta o então director da TRIBUNA DE MACAU que “terminada no tempo do
Governador Carlos Melancia, começou a viagem inaugural, com Sá Leal
como comandante, a 9 de Julho de 1990, rumando à ilha japonesa de Kyushu
e à cidade de Omura, para participar nas comemorações dos 400 anos da
viagem de quatro samurais à Europa, levados por jesuítas portuguesas. Em
Tanegashima, o seu pessoal participou no anual Festival da Espingarda e
numa cerimónia no Cabo Kodura, local onde Fernão Mendes Pinto terá
pisado pela primeira vez solo japonês. No Japão, foi ainda festivamente
recebida em Kagoshima e Nagasaki, ambas cidades-portos com
relacionamento histórico com os portugueses.”
Nos anos seguintes, efectuou viagens simbólicas à China, Coreia,
Índia, Sri Lanka, Tailândia, Malásia e Singapura, sendo sempre muito
visitada, ao mesmo tempo que propagou o nome de Macau nesses países.
Nos finais de 1997 ou inícios de 1998, seguiu para Hong Kong onde foi
içada para um barco que a transportou a Lisboa para tomar parte na Expo
98, tendo sido um enorme sucesso. Na altura, a embarcação, tinha uma
tripulação de 13 homens, e era comandada por António Carlos V. Rocha
Carrilho, que este ano era vice-almirante.
Os problemas começaram a aparecer no final da Expo, porque o
transporte de regresso era caro e 1999 aproximava-se. Acabou por ficar
em Portugal, a cargo da Marinha, que a 28 de Setembro de 1998, a abateu
ao efectivo, por despacho do Almirante CEMA e entregue a título gratuito
à APORVELA, que tem por objectivo estatutário “promover a ligação das
pessoas ao Mar, mantendo viva a tradição do património marítimo
português”.
Em 2012, a Lorcha Macau voltou aos “media”, porque as instituições
portuguesas que a aceitaram gratuita, e voluntariamente, não impediram a
sua degradação e a RAEM não revelou interesse em que voltasse para
Macau. Foi então cedida à Fundação Oriente, ao que parece gratuitamente,
com a obrigação de proceder à sua recuperação e manutenção, mas logo em
2015 um relatório técnico reconheceu que que a recuperação é
impossível” e acabaria por declarar a Lorcha Macau como “sucata”.
Agora é definitivo: a Lorcha “Macau” passa à história…
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